sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Ela tinha sido punk. Ele tinha um sobrenome estranho. Ela tinha a habilidade extrema de embriagar-se com café. Ele tinha três cofres de porquinho cheios de moedas de cinquenta centavos. Ela gostava da porta sanfonada do banheiro dela.  Ele já tinho escrito três livros que foram publicados em sua gaveta. Ela adicionou ele sem querer. Ele quase bloqueou ela. Ela não pisava nas linhas pretas da calçada de Ipanema. Ele ia pro trabalho de bicicleta. Ela amava sexo matinal. Ele odiava usar sapato. Ela sempre pintava a unha do dedão de cor diferente das outras. Ele gostava de comer cebola assada. Ela não chorava com filmes. Ele praticava windsurf. Ela vivia numa ponta do Brasil. Ele vivia na outra. Ela comprara cortinas azuis para seu quarto branco. Ele perdeu três vezes sua carteira de identidade. Ela odiava ficção científica. Ele gastava crédito demais mandando mensagens. Ela fazia faculdade de Zootecnia. Ele gostava de mulheres mais velhas. Ela era libra, ele era peixes. Ela tinha uma passagem de ônibus pra Santa Catarina. Ele tinha uma casa e um coração que esperavam ela.

'Ele' e 'ela' podia demorar a se tornar 'eles'... Mas com certeza o 'eu' e o 'você' já tinha virado 'nós' há muito tempo.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Difícil ter força esses dias. Como se teu ânimo escorresse pelos dedos, pingando no chão. Evaporando, logo depois. Eu não sei. Na boca fica um gosto estranho, como se tu tivesse engolido uma barra de ferro. Sem mastigar. Te falta coragem pra voltar à luta. Te falta forças pra continuar a escalada. Você se sente fraco. E com isso, tua mente se distrai. Perde-se em memórias que nunca te pertenceram. Os dias vão passando, e tu mal percebe. É como se hoje fosse dia vinte e sete, e amanhã fosse dia quinze. Do mesmo mês, e do mesmo ano. É tudo muito confuso.Você não pode explicar.Você não consegue explicar.Você não quer explicar. O baque da última derrota que fez isso em ti. Acreditem em mim, a pior derrota de todas, é da batalha que em instantes antes,você acha que venceu. Quando você pensa que vem a calmaria, surge uma tempestade horrível, como se Éolo estivesse com raiva de ti. E muita raiva. A tempestade te atira longe.Você bate a cabeça, você fica desnorteado. Teu corpo todo dói. Aí você para e pensa, que não tem dor física nenhuma. É só o emocional. É só o maldito emocional fudendo, mais uma vez, a tua vida.

Viajar sem sair do lugar

Era uma vez, uma guria de uns 8 anos de idade. Lembro que ela estava com raiva, não queria se mudar, e principalmente voltar para o estado cheio de calor que ela nascera. Ela queria correr pelos pampas do Sul, queria morar no Rio Grande pra sempre, mas nem sempre a vida era como ela queria que fosse. Para dar-lhe o que fazer, sua mãe pegou sua mão, e foi lhe levando até o centro da cidade, em um lugar na mesma rua que a casa do pai dela - assim, ela poderia ir sempre, se quisesse. Ao entrar, a menina se deparou com livros. Uma série deles. Diversos livros, milhares de livros, estantes e estantes cheias deles. A mãe falou para filha ir escolher algum livro pra levar e ler em casa. Três dias depois, a menina leu o livro... E claro, foi atrás de mais. A partir daí, virou devoradora de livros. Melhorou seu português, tinha mais assuntos para conversar, ganhou campeonatos de soletrar, concursos de redação... Sua paixão só foi crescendo, e ela foi aprendendo a escrever também, transformar sentimentos em palavras. E no Natal desse ano, ao invés de ter uma árvore comum, ela criou uma árvore com tudo aquilo que faz. Alías, sua maior conquista. Viajar sem sair do lugar.
Queima, corrói e destrói. Tudo ao mesmo tempo. Rasga um pedaço da pele toda vez que penso, e a espera me faz querer arrancar os cabelos, e até o faria, se a agonia que eu sinto não fosse dor suficiente. Tu me pedes por paciência, digo-te que não tenho nenhuma, e nem nunca tive, que me dói na alma ter que aguentar mais um minuto, quanto mais alguns dias e até meses. Porque não queres de mim algo que eu posso lhe dar? Virei escrava do tempo, e depois de uma semana, sou só sorrisos quando vi que ela passou rápido. Oblitera-me o coração ter que esperar. Machuca. Ai, paciência. Cadê você, que nunca o conheci? Vem e me salva.

Busco inspiração em alguma música. Toca Metallica, toca Led Zeppelin, toca Nirvana... Nada. Toca Legião Urbana. As palavras vão saindo da cabeça, movendo-se dos dedos para as teclas. Penso em mim, penso em ti - penso em nós. Penso no que dissestes, e penso que quero ouvir tua voz. Escrevo isso. Leio e releio, olhos vidrados na tela do computador. Ah, porque não vens? Porque não chegas e me tomas, dai-me le petit mort. Não, não vem. Independo de ti. Deixa que eu vou. Deixa que eu paro de escrever, deixa que eu deixo o rascunho inacabado. E eu chego aí. E eu te beijo. E eu te sinto. E eu te amo bem de leve, bem de levinho, só pra te amar bem forte de novo.


"Assim que o teu cheiro forte e lento

Fez casa nos meus braços e ainda leve,
Forte, cego e tenso, fez saber


Que ainda era muito e muito pouco"


Daniel Na Cova dos Leões - Legião Urbana

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Contos de fada


  • Não vai aparecer uma fada-madrinha que te deixará linda. Você vai ter MESMO que fazer academia, tratamento de pele, se alimentar bem, hidratar o cabelo e o diabo-à-quatro pra ficar bonita.
  • Nenhum coelho atrasado irá te fazer ver um mundo mágico, onde você tomará chá com o Johnny Depp, será amiga da rainha Anne Hathaway, e a Helena Boham-Carter irá querer cortar sua cabeça. A realidade é bem diferente, mon ami
  • Se a Rapunzel tinha cabelos tão longos, que até o príncipe podia escalá-los, porque cargas d'água ela não amarrou os cabelos na cama e desceu ela mesma da torre? Analisando pelo lado psicológico da coisa, Rapunzel tem um distúrbio que algumas pessoas que são sequestradas e vivem com seus sequestradores tem, eles acabam se acostumando, e mesmo tendo a chance de sair, não voltam pra casa.
  • Ok, Branca de Neve. Em que mundo, é aceitável beijar um cadáver depois de horas que ele foi morto? Sério, o cadáver tá frio, fedendo, e ugh, tá nojento. No mundo que eu vivo, isso se chama necrofilia.
  • Vamos parar de ser hipócritas, e vamos considerar o fato de que se Cinderela não gostasse da vida que ela levava, com seus 16 anos ela teria pedido emancipação, e ia trabalhar em algum canto. E vamos também pensar que é impossível qualquer homem ver uma empregada com aspectos de mendiga e se apaixonar por ela. Reflita.
  • Uma casa feita somente de doces, é impossível de se manter. Na atual temperatura que o mundo se encontra, vocês já devem ter vivido a terrível experiência de pegar um chocolate, abrir ele, e ver ele todo derretido. Imaginem uma casa inteira assim. E outra, doces estragam. Mesmo que os chocolates e doces não derretessem, com toda a chuva, sol, contato com o ar, e claro, as formigas, a casa ficaria toda mofada, e impossível de se viver.
  • Outra coisa sobre Joãozinho e Maria... Quem é a pessoa que sente um graveto e acha que é um dedo?
  • Desde quando uma bruxa pode pegar um bebê, manter ele, e os pais da criança, não fazem nada? Porra, chama a polícia, véio! Vai deixar a criança lá? Aí, depois de anos, a coitadinha volta, e tá tudo bem pra ela, ela não tá nem aí que foi deixada pra viver com uma bruxa e que os pais dela não fizeram nada. Tsk...
  • No mundo em que eu vivo, se você entrar numa "casa" de ursos (vulgo toca, caverna, whatthehell) você é devorado por eles, e não fica experimentando as "cadeiras" ou "camas" que eles tem.
  • Está provado cientificamente, que nenhum feijão é capaz de criar uma árvore enoooooorme que já cresce com gigante, casa do gigante, galinha dos ovos de ouro, e tudo mais.
  • Não existe nenhum casal que tenha um final "feliz pra sempre". Vem os filhos, as estrias, celulites, contas pra pagar, como educar uma criança, as brigas conjugais, e tudo mais... Ah, e não há garantia nenhuma de felicidade eterna no casamento, por isso, existe o divórcio. Fica a dica.
 Bom, eu tenho mil idéias ainda, mas quem sabe fica para um próximo post. Ah, e assim como os contos de fada, esse meu post moral da história!

Cansei, sabe? Cansei de ser o alvo preferido de todas as reclamações. Vocês, adultos, são tão cheios de defeitos, mas ao invés de olhar para os seus, vem e apontam os meus? Sim, eu sou cheia de erros, sabe porque? Porque sou humana. Mas vocês, bah, vocês deveriam diminuir a quantidade de erros que vocês cometem, sabe? Porque vocês tem a experiência do lado. Tá, eu erro. Mas eu aprendo. Quanto a vocês, podemos dizer o mesmo? Querida família, quero lembrar-lhes: vocês. não. são. perfeitos. Entendido? E não venham falar que erraram por causa disso, por causa daquilo, do tratamento que receberam da mãe. Minha mãe já fez coisas bem piores comigo (e vocês bem sabem) e eu não culpo ela por meus erros. Meus erros são meus. E sou bastante adulta para admitir que estou errada. Não vejo necessidade em culpar ninguém. Sinto que esse post tá saindo como uma revolta adolescente, coisa que eu nunca tive, sempre fui colocada no nível adulto, então, nem criticava. Mas tô saindo desse núcleo, sabe? Porque se ser adulto é fingir que é perfeito, desculpa, sou uma baita de uma criança. Ah, e arrumem outra pessoa pra apontar defeitos. Eu, tô fora.